quinta-feira, abril 05, 2007

Mudou de maneira concreta
o amor de imaginar amar-te,
quando não estás e te imagino
e quando te imagino e estás.

Não estás e passeio nas montras.
O que a imaginação me mostra
não consigo esconder.
Nem quero. Assim habita em mim
o que em mim mudou.

Quando me imaginava a despir-te
e desfilava nos meus olhos, nos meus dedos, nos meus lábios, no meu desejo,
a harmonia alva e rosa do teu peito
tudo era efémero.
E dói-me não te absorver num grito,
dói-me o grito acabar.

Agora passeio nas montras
e nunca como agora senti os bolsos vagos.
Eis uma fome nova, uma sede áspera.
Imagino-me a vestir-te.
Não a despir-te - a vestir-te,
e conhecer o toque dos tecidos a eriçar-te a pele,
o deslize dos vestidos pelo teu corpo e os vestidos a entrarem nele
e eu vestindo-te despindo-te,
troco as sedas pelos contornos das minhas pernas
e novos veludos pelo fogo do meu peito
e depois eu despindo-te vestindo-te
e descobrindo-te os contornos claros
no bailar inebriante dos teus passos
e tudo enfim se insinuar num rendilhado
que exibes em mármore
e que me prende ao tempo,
sem tempo que me prenda, numa teia densa.

30-12-2006

1 comentário:

Unknown disse...

Até tenho medo de passar por aqui de tão lindo que é o que por aqui se escreve.

Beijinhos, muitos! Até breve.