sábado, fevereiro 25, 2012

Que amor calo quando falo de amor?
Não amo nem calo -
falo.
Só no que calo eu falo o que é de amor.

18-1-2012
Se eu puder estar aqui mais uma meia-hora por ti
e que os dias passem sem eu sair
e que não me beijes nem alimentes
e que gota-a-gota me vás cortando o vinho
acredita
que no pouco tempo que me deixas
que no pouco amor que me devotas
que na ausência de sorriso que provocas
eu vou-te fazer desaparecer.

17-1-2012
Há uma urgência fotográfica
em te virar a mão,
a esquerda,
a que insistes em manter de palma virada para baixo.
A outra,
a direita,
é mais tua,
com ela escreves e comes,
apalpas e roubas,
com ela mandas seguir
ou parar
e por isso,
porque é mais tua,
manténs também a palma virada para baixo,
porque é de cima que encara a outra,
a esquerda,
que a empurra para baixo,
lhe pressiona as costas
sem a deixar subir.
Por isso o congelamento pede cinética,
dinâmica,
e a palma esquerda virada para cima
altera mais que objectivamente a imagem -
há-que conhecer do magnetismo
a subjectividade dos pólos,
discernir o positivo do negativo
e do gesto simples de virar a palma para cima,
a esquerda,
acontece cinematicamente aproximação,
urgente como o pede o tempo,
até que duas mãos ficam ao mesmo nível
e já a esquerda pode escrever e comer,
já toca,
já impede o roubo,
já manda parar onde a outra apressa,
já manda avançar onde a outra estanca.
É pictórica a urgência ali posta
e é preciso que se saiba que basta um pequeno movimento para que a imagem mude,
mas é preciso que sejamos rápidos,
é preciso não darmos tempo a que se pense que se a outra,
a direita,
mudar,
que a aproximação se dá
porque não dá -
é que à mão direita interessa continuar sozinha a escrever e a comer,
a apalpar e a roubar sem constrangimentos,
a dizer pára ou segue sem que nada a atrase.
E tem que ser a mão esquerda que,
na aproximação,
se vire rapidamente -
segue a direita para baixo -
e se vire rapidamente -
segue tudo o mais para cima.

E é assim que do teu retrato,
se explica como tudo se transforma.

9-1-2012