segunda-feira, outubro 22, 2012

Da carta de longe
tão longe
escreveu-se a casa
morou-se
entrelaçou-se a roupa
nasceram hipóteses de memórias
nasceram palavras.

Saio de não gostar.
Para longe
tão longe
que a casa abandonada
calada
se esquece de mim.

segunda-feira, outubro 15, 2012

Eu gostei tanto
sob a luz da manhã
de parar o pranto
e ter-te no afã
dos tempos em que não tive nada.

Foste uma boa fada!

8-2012
Como que superando ondas
ergo-te em sabores
sal
o reflexo
lateralizando as ancas
uso andas de satisfação
eu espreito
prescuto
espero
as mãos fixam-se numa aproximação
quase penetração
um arrepio
a respiração é incontrolável
o coração já não é meu
e sou quase triste
estou quase fora
sou não sei quem
e as mãos trazem-me de volta
e vinco os polegares
nas tuas costas
e tu gostas
tu gostas
e vens estreita à fome
e vens e vais e vês
onda
rebentação
grito
as mãos nas ancas sabem
mas o ritmo é teu
o canto é teu
eu sou só coração a bater
e polegares a guardar
para sempre
para sempre
as minhas mãos na tua ânsia
aquele mergulho de acordar.

8-2012

O desenho frutado
do teu seio
promete sucos de âmbar
que beber se intenta
o desenho
e de o olhar só o quero
olhar
e tocar e beber e
olhar
e pedir-te sempre
sempre
o teu seio como o mundo
o teu seio
na palma da minha mão.

8-2012
A humanidade é nua.
Agasalhada não se exprime.
Se tenho que pedir
por favor
deixa lá vir
meu amor
a esperança
que vai ser possível.

Se tenho de te ouvir
por favor
não tens que repetir
meu amor
que a lembrança
é indivisível.

Se depois de ter tido
a possibilidade
magnífica
dos impossíveis
eu não posso ficar.
Meu amor
o sentido da cidade
não me fita
e não me faz ser mais visível
depois de ter tido uma cama onde estar.
A minha vizinha
quando está sozinha
vem vestir-se à janela -

A rua o espelho!

Eu espero por ela
sozinho à janela
um centelho um distante
um instante imberbe à janela -

A casa o refúgio!

A minha vizinha olha-me.
Quando acompanhada a minha vizinha
não a sinto minha.
Geme alto
para o sangue do bairro -

A rua o desejo!
Hoje não saio
Sou invisível
Sou descartável
Sou o limite da espera
Sou o encontro da negação
Sou o que é derrotado
Hoje
Antes mesmo de chegar.

Sopa

Semi denso contra a fome
recebe nacos de pão que trouxeram fiado.

Quando há aromáticas sabe a aguçar-se o engenho.

No fundo o meio recorda-se
que nunca queria o prato cheio.

30-6
Na mudez do mundo
mudei
pulei as cercas do sonho
risonho
segui porque sabia o mar
e amei -
cerquei os poemas caçados
rebuçados de mel no canto
que a garganta traz ao canto
de trás.

29-6
Há mais de ti nestes passos
que os cansaços
da mochila em dor maior
que carrego
com alegria.

9-10