domingo, abril 15, 2007

A luz que brilha na janela.
A espera, olhando a janela.
Do fundo daquela luz
Brilha o calor que aquece o tempo.

A mulher vem
(sorri?)
Ela é a luz que brilha na janela.

4-2004

quinta-feira, abril 12, 2007

Estás longe,
latitude de sombra onde descubro
que estou longe
e só.

O que faço no absoluto
prisioneiro poente
num tempo sem infinito?
Dói-me o dente,
a vontade sem desejo.
O beijo?

06-02-2007

quinta-feira, abril 05, 2007

Mudou de maneira concreta
o amor de imaginar amar-te,
quando não estás e te imagino
e quando te imagino e estás.

Não estás e passeio nas montras.
O que a imaginação me mostra
não consigo esconder.
Nem quero. Assim habita em mim
o que em mim mudou.

Quando me imaginava a despir-te
e desfilava nos meus olhos, nos meus dedos, nos meus lábios, no meu desejo,
a harmonia alva e rosa do teu peito
tudo era efémero.
E dói-me não te absorver num grito,
dói-me o grito acabar.

Agora passeio nas montras
e nunca como agora senti os bolsos vagos.
Eis uma fome nova, uma sede áspera.
Imagino-me a vestir-te.
Não a despir-te - a vestir-te,
e conhecer o toque dos tecidos a eriçar-te a pele,
o deslize dos vestidos pelo teu corpo e os vestidos a entrarem nele
e eu vestindo-te despindo-te,
troco as sedas pelos contornos das minhas pernas
e novos veludos pelo fogo do meu peito
e depois eu despindo-te vestindo-te
e descobrindo-te os contornos claros
no bailar inebriante dos teus passos
e tudo enfim se insinuar num rendilhado
que exibes em mármore
e que me prende ao tempo,
sem tempo que me prenda, numa teia densa.

30-12-2006
O vento arrasta-lhe os cabelos
numa ondulação tonta,
serpenteante,
como um mergulho no vazio.

Para onde leva o perfume
que ficou do sono e da cama?
É preciso recuperar esse perfume,
abraçar o mar com força,
colar ao corpo alvo o sabor das ondas.

E no vento surgir desperto.
E do vento segurar o grito.
E ao vento abrir os braços
e respirar a forma alada
do que somos.

10-2006

segunda-feira, abril 02, 2007

Abres os olhos e um sorriso
desperta os sentidos dormentes.
O teu - lindo.
O meu - torpe.

Sorris e eu, enfim, sorrio.
Suspiro - a incógnita do sorriso
transpira um orvalho cálido,
e as minhas mãos
ainda não seguram as tuas.
O vento penteia uma cortina dourada
e as minhas mãos?

Seguro um livro de poemas distantes
e escolho um que não fala de amor.
Estendo-te as mãos e sorrio.

31-01-2007
Uma teia de emoções,
trepadeira pungente na ausência do jardim.

Há uma folha de papel em branco
e barro de tez canela,
há fios de ouro a pentear o rio,
há noites estilhaçadas
de onde acordo numa torrente de cor.

Da janela recente mergulho.
Para trás um súbito desabar,
o pó que me envolve e me tosse.
a caveira do amor
e escuro e frio.

Escrevi um prelúdio para orquestra.
Senti nas cordas do violino todo o tempo afinar
um vento de flauta embalando o olvido
um sussurro contralto que do silêncio me acordou.
Da janela recente mergulho.

Vai-me envolvendo uma teia de palavras.
Numa folha branca um perfume primaveril,
mármore e beijo.
A janela é um sorriso alado.