Da janela por onde olho
um jardim agoniza a ausência.
Nasceu com a casa
verdesceu e floriu
fotografia dos frutos esperados.
Foi regado
podado
semeado no tempo de si
e ainda que pouco
fez a graça do alimento nas bocas que o cuidavam.
Depois veio a fuga
todo ele caroteno fora de época
todo ele o acumular da desilusão do fogo e da chuva.
O que é ornamental suspira.
O jasmim secou de espera.
As rosas
quando não morrem
não enganam ninguém.
Os cactos
sedentos
aguentam-se camaleónicos sem personalidade.
A hera cai.
E aquela planta de frutos amarelos que nunca tivemos coragem de comer
vai sugando sozinha o perfume das hortênsias
que surgem na timidez.
Um abacateiro com a forma do amor
num vaso grande.
Este viu tudo acontecer -
era imberbe e trouxe as mudanças na sua ânsia
e cresceu de mais
como nós
desordenado
ramagens feias e espaçadas
no excesso de sol
querendo expandir-se
espalhar raízes numa terra mais funda.
Cresce ainda
mas sem beleza nem frutos.
Uma frágil anoneira
não se dá por crescer.
Existe e é o que basta para que a sombra não se esqueça.
Aquela oliveira anã está deformada.
Os braços crescem-lhe mais que o corpo
como se se esticasse para alcançar o longe
e no momento de saltar a vedação
lhe amputassem a esperança.
Na parede
o sonho da verticalidade
acordou no vazio.
Tudo morto.
E nos outros vasos
quero que saibas amor
que há um mato de espargos e alho-francês
que vão ser adubo de algo antes de aroma.
Dois pimenteiros
de frutos raquíticos
que não apicantam.
As folhas secas estão lá desde o verão.
E o que dá alguma cor ao jardim
é o tomilho, a hortelã, o poejo e o alecrim
que são selvagens
como são as noites de tesão indiscreto
em que saio para me vingar do tempo.
Despontou outro abacateiro que não se sabe o que é.
E as sementes de jaca de são tomé
aguardam secas na janela um clima mais equatorial.
Aquele physalis
tem uma pequenas flores bonitas
que nunca resistem à chuva.
As asas dos frutos raramente amadurecem
e nunca mais encontraram
abertos
uma boca em forma de cereja que os sorva.
O poema
é daninho.
um jardim agoniza a ausência.
Nasceu com a casa
verdesceu e floriu
fotografia dos frutos esperados.
Foi regado
podado
semeado no tempo de si
e ainda que pouco
fez a graça do alimento nas bocas que o cuidavam.
Depois veio a fuga
todo ele caroteno fora de época
todo ele o acumular da desilusão do fogo e da chuva.
O que é ornamental suspira.
O jasmim secou de espera.
As rosas
quando não morrem
não enganam ninguém.
Os cactos
sedentos
aguentam-se camaleónicos sem personalidade.
A hera cai.
E aquela planta de frutos amarelos que nunca tivemos coragem de comer
vai sugando sozinha o perfume das hortênsias
que surgem na timidez.
Um abacateiro com a forma do amor
num vaso grande.
Este viu tudo acontecer -
era imberbe e trouxe as mudanças na sua ânsia
e cresceu de mais
como nós
desordenado
ramagens feias e espaçadas
no excesso de sol
querendo expandir-se
espalhar raízes numa terra mais funda.
Cresce ainda
mas sem beleza nem frutos.
Uma frágil anoneira
não se dá por crescer.
Existe e é o que basta para que a sombra não se esqueça.
Aquela oliveira anã está deformada.
Os braços crescem-lhe mais que o corpo
como se se esticasse para alcançar o longe
e no momento de saltar a vedação
lhe amputassem a esperança.
Na parede
o sonho da verticalidade
acordou no vazio.
Tudo morto.
E nos outros vasos
quero que saibas amor
que há um mato de espargos e alho-francês
que vão ser adubo de algo antes de aroma.
Dois pimenteiros
de frutos raquíticos
que não apicantam.
As folhas secas estão lá desde o verão.
E o que dá alguma cor ao jardim
é o tomilho, a hortelã, o poejo e o alecrim
que são selvagens
como são as noites de tesão indiscreto
em que saio para me vingar do tempo.
Despontou outro abacateiro que não se sabe o que é.
E as sementes de jaca de são tomé
aguardam secas na janela um clima mais equatorial.
Aquele physalis
tem uma pequenas flores bonitas
que nunca resistem à chuva.
As asas dos frutos raramente amadurecem
e nunca mais encontraram
abertos
uma boca em forma de cereja que os sorva.
O poema
é daninho.