sexta-feira, novembro 21, 2008

I
Lembrei-te enquanto atravessava a estrada.

Tinhas o passo elevado do tempo que podia ser o nosso.
Mas não houve tempo para nós.

Na curva um beijo.
Um sorriso alado que cristaliza o sorriso.

II
Mas não houve tempo para nós.
Nem eras tu que estava no outro lado
quando atravessei a estrada.

quarta-feira, novembro 19, 2008

Poemão, corpo posto
paixão
poemor, mais
ternura
poeamor, amor
palavras.


7-11
O horizonte, amor.
Já não estou lá nem estou aqui.
A paisagem passa
e decomponho a luz da tristeza
nas gotas de água
que são lágrimas que não ousava chorar.
De que me serve o horizonte, amor?

7-11
Tenho saudades tuas,
das tuas palavras nuas.

Ainda que todas as noites me agarre ao teu corpo...
Não sei como reagirão as palavras
que não te encontraram onde estavas
depois de atravessar todo um mar
na ânsia de te envolver.

Foram sempre escravas por um querer-te ter
e às palavras direi o que tiver de ser
porque na dor do que dirão
nunca esperei ter de me encontrar.

7-11

terça-feira, novembro 04, 2008

Os membros fantasma
cujas chagas me despertam à noite
caminham sem saber
às costas da ausência.

As tormentas e as saudades.
Caminho numa direcção sem entendimento
amputado de palavras
com dores invisíveis.

É a comichão num ponto que não vejo
é o desejo onde nada encontro.
A confiança para caminhar
ou não caminhar.

É acordar à noite quando percebo o que aconteceu.
E não saber em que acreditar.
Talvez o caminho, nunca o sono
me trarão de volta às voltas com as palavras.

sexta-feira, setembro 26, 2008

Sei lá
se juntar as cartas
e digerir as mentiras da espera
as palavras não são a plasticina
onde se moldam os poemas?

Sei lá
que consistência terão as palavras
depois de mastigadas?
E a esperança que esqueci
sei lá se me lembrarei?

Sei lá
se a nudez chegar
e se se erguer uma barricada de suor
o corpo não me envergonhe
ou se me envergonhar e eu tenha de ser capaz?

Sei lá
se na esquina do prédio me virar alado
para um sorriso
e se o sorriso me quiser
sei lá se te encontrarei depois?

25-9-08

quinta-feira, setembro 11, 2008

Gosto de dizer mentiras
ao ouvido de morenas lindas
e que elas me mintam
prometendo impossíveis
fingindo
gemendo quimeras impossíveis.

E olhar
exigir às morenas lindas
movências de bailarina
que tenham a intermitência das estrelas
para que não esqueçam
que o desejo acontece sem saber.

Gosto que a mentira
inspire poemas nas morenas lindas
e que os poemas
tansigindo
dispam segredos invioláveis
e que a mentira me possa enternecer.

sexta-feira, agosto 15, 2008

Receita de Poema

Junta-se água
até toda a água se queimar.
Depois a mágoa.
Quando o sal da dor solidificar
coloca-se uma melodia de fogo brando
até que uma música de caminho
perca o onde e o quando.
Na última nota junta-se vinho.

Deixam-se apurar as palavras
nas ruas escravas
da cidade.
Lembrar de nunca acompanhar com caridade.

2-8
Ao teu lado
a noite cai escura
(apenas o pincel fino dos estores
emerge contornos de imaginação)
sem vozes que a escutem
sem água sem pão.

De cansaço
as palavras fotográficas enevoam
(desejo interrompido)
e um estremido oco
ocupa o lugar da noite
no desejo tão rouco.

Sem sono sem acordar
ao teu lado
agarrando dentro do suor
um hipótese de sede
(mas o oásis do sonho
era toda a rua a cantar).

2-8

quarta-feira, agosto 06, 2008

Não posso identificar
a direcção do vento
que te enleia
continente de colinas
que eu cobriria como água.

Dizem que sopra de lá
onde há meses já estás
e nomeiam-no como poeiras.
Mas o vento
continua a não dizer nada.

Olho o céu
penetro o mar
(é certo que são os mesmos)
e imagino hipóteses de ligação.
Talvez assim o vento
te traga por um instante.

1-8

terça-feira, junho 10, 2008

Um semblante de mosquitos
que enquadra a espera
numa caçada inadvertida
ao tempo.

Sei que não vens.
Já estás longe antes de partires.
Partem-se-me palavras
num trapézio na ponta da língua
um sibilar de silêncio
que só o sugar exangue dos insectos
interrompe.

9-6-2008

quinta-feira, abril 10, 2008

Percorro negativos
congelados instantes
vida arquivada
como memória.

Quis perceber
em que momento perdeste o sorriso
em que noite deixaste de sonhar
em que beijo perdeste o desejo...

quinta-feira, março 20, 2008

No lado de onde estou
acordo dormente de sangria
sem sangria
sem o desejo de sangria
sem uma hipótese de sangria.

No lado de onde estou
nem o sono
estanca a febre
de sombra nunca o sono a estancou.

8-3

segunda-feira, fevereiro 04, 2008

Se me deixares
vou sair pelos bares
vou rodar os calcanhares
que Aquiles
nunca me deu a força
aquilo que me tiraste à força
aquela força
que era nossa
e que um Eros
de sede
cedo comeu.

1-2-2008 (Parecia que estava a adivinhar!)
Se t esperava
dançante
Se te queria
crente
Se te cria
alucinada
Fizeste um poente na curva da estrada
alucinante
mas não dançaste
dormiste.
Sim, e era cedo e não acordaste

Não, nem reparaste
na dança que existe
melodiando triste.

1-2-2008
No carrocel das palavras
as escravas
burilo inquietações fulgrantes
dançantes
num ritmo locomotivo
e que cultivo
neste formigueiro iminente
dormente?
Não - desconcentrado...

1-2-2008

quarta-feira, janeiro 02, 2008

Por ver-te olhando-te
de te ver tocando interrogações
reclino-me um pouco, torto
para te ver tocando-te
absorto
as mil vezes minhas mil inquietações.

Posso-te ver negando-te
tragando massas surumbáticas
desejando-te tocar-te, até um ponto
em que me ver desejando-te
(tonto)
acorda as mil vezes minhas mil texturas enfáticas.

Por não te olhar, mas vendo-te
trago um desgaste pioneiro
que te fere e sara, exangue
por te ter desejando-te
enfim o muco, o suco, o sangue
as mil vezes minhas mil vezes tuas por inteiro.
Rua lembrada de uma ruga
os seixos, os septos, sensus,
marcas, ondas, abruptas inclinações -
deambulações.

Não cesse o alargamento das margens
e que o tempo ondeie semimovente
subtilmente lânguido
como conchas, ou coxas
que desejasse ter lambido.

Venha o corpo estonteante
e que se esconda das passadeiras
quem se hipoteca sem depressões -
não havendo hipótese de vertigem
de que servem, desdobrados, os colchões?

A Natureza desconhece linhas rectas...