sexta-feira, abril 26, 2013

Certamente há algo de liberdade ao sol numa praia
ou no percorrer as compras que penso que me apetece
(e é nessa liturgia de liberdade que nos confundem as estações)
mas na primavara que perece
acontece
afirmar-se a primavera até ao sal -
o sal da rua e o sal do grito
o sal do rito em que se tempera a certeza
do mar dos dias que caminhamos e gritamos.
Porque herdámos dos pais esta tristeza
e a noite presa
mas também a pressa dessa madrugada feita para trocar
flores de novo
(e é nessa esperança sem cordões que mergulhamos na liberdade
de fazermos acontecer a madrugada).

terça-feira, abril 09, 2013

Há-de haver um deus qualquer para o silêncio
uma oração que congele o tempo
alguma coisa a que rezar
por ser homem
e fraco na sua ausência.

Um deus assim será um esteta de edifícios de vapor
e terá que construir com a sua própria distância
os templos onde os desejos se expressam
templos onde sejam proibidas palavras que não unam
templos onde não se glorifique nada além do olhar.

Um deus assim pedirá perdão por ter errado
mas cairá no mesmo erro de amor de cada vez
que pouse os olhos calados e curiosos
nuns olhos curiosos e tímidos que lhe calem o poder.

E há-de haver um silêncio para o homem.
Uma fé de dar sem ter e de receber sem pedir
de esperar
esperar sem espaço
que os olhos que se aproximam
olhem para lá do silêncio sem o conter.