sexta-feira, março 30, 2007

Procuro no escuro uma volúpia ausente
como os fantasmas tristes,
os fantasmas que acordam fora do sonho.

Venham de noite os ombros e as ondas.
Que embalem a imaginação
e adormeçam inspirados comigo.

11-06
De gelo,
de gelo e gelatina,
fazes este momento,
este suspiro.

De frio transpiro,
lágrimas sem cor, sem alento.
Com elas faço uma escultura cristalina.
Para ti, de gelo.

sexta-feira, março 23, 2007

A saber:
Nada sei além
De que dizer o teu nome
É manifesto de filosofia,
Saber o sabor do conhecer,
É vida
E desafiar o medo e a morte
Sem morrer.

Limite que tende para o infinito,
Extremo tudo-ou-nada
Que é de súbito mel,
Para o mal, para o bem,
Sem nada saber além
De que dizer Sofia
Tem do desconhecido a magia
E do filosofar do conhecimento
O momento efémero que é eterno,
E o ar,
Pois se alguém o inspira
É para que fale em perfume
O teu nome.

A saber:
Penso em ti porque existes,
Como porque tenho fome,
Bebo porque tenho sede.
Ao retrato improvisado
De montes, vales, nascentes e florestas
Fiz do teu corpo o meu mundo.
Fecunda no teu ventre,
Tornas-te metafísica, dialéctica,
Ecléctica porque, enfim, material.
Penso em ti e já existo.
Lua branca,
Criança e maturidade
Com nádegas olhos seios
A iluminar caminhos sem idade.
Perco-me para me encontrar
Do fogo longe e perto,
Da volta ao mundo do mundo em mim
Que vejo cheiro ouço sinto
Em ti, branca nua.

Mulher clara
Gema casca corpo
De qualquer forma casta
De qualquer forma a forma
A refeição a forma o pão
Sustento das horas sem fim
Mas que passam.
Cara coroa
Luz da noite
Canta e os males espanta
E o sorriso
Magoa de imenso.

Dentadas
Dentes esmalte
Ouro canela marfim
Fonte por vezes fechada
Por vezes quimera
Por vezes nem a sede a esgota
Na gota-a-gota-a-gota
Em que entro quando é chama

Pimenta e caril em que me chamas.
Retirado da escuridão do ventre, do fundo da gaveta em que o tempo tinha enterrado as palavras... Só porque sim.